O TEMPO DO SONHO: POESIA CÓSMICA E METAMORFOSE NAS CULTURAS INDÍGENAS
Resumo
Resumen: Apresentamos a concepção, marcante em várias culturas indígenas, com destaque para as ameríndias e australianas, de um originário Tempo do Sonho, no qual tudo é possível pois todas as formas de vida fluem, na passagem do invisível ao visível, numa constante metamorfose autopoiética. Este Tempo do Sonho, sinónimo da inesgotável virtualidade do possível, oculta-se ou é esquecido no triunfo do pensamento conceptual e categorial, dominante no Ocidente a partir da deriva platónico-aristotélica e epistémica da filosofia. O Tempo do Sonho pode, todavia, ser a cada momento experienciado mediante o desempenho mítico-ritual, o canto poético e os estados diferenciados de consciência por eles induzidos, como na intermediação do xamã que, livre de identidade, transita livremente entre as múltiplas perspectivas configuradoras dos processos dos múltiplos seres e mundos.
Abstract: We present the concept, which is marked in various indigenous cultures, especially the Amerindian and Australian ones, of an original Dreamtime, in which everything is possible because all forms of life flow, in the passage from the invisible to the visible, in a constant autopoietic metamorphosis. This Dreamtime, synonymous with the inexhaustible virtuality of the possible, is hidden or forgotten in the triumph of conceptual and categorical thinking, dominant in the West since the Platonic-Aristotelian and epistemic drift of philosophy. The Dreamtime can, however, be experienced at every moment through mythical-ritual performance, poetic song and the differentiated states of consciousness they induce, as in the intermediation of the shaman who, free of identity, moves freely between the multiple perspectives that configure the processes of multiple beings and worlds.