@article{Borges_2017, title={Regressar à presença anterior à filosofia: a perplexidade em Ibn ʿArabī - uma reflexão a partir de María Zambrano}, volume={4}, url={https://revistas.um.es/azufre/article/view/314761}, DOI={10.6018/azufre.314761}, abstractNote={<p class="Default">Platão e Aristóteles situaram a origem da filosofia na experiência de <em>thaumas, </em>o espanto, admiração ou maravilhamento <em>(verbo thaumazein)</em>, precisando Aristóteles haver um espanto inicial, comum a todos os humanos. María Zambrano, contudo, considera que, se o “pensamento” tivesse nascido apenas da “admiração”, seria difícil explicar como se plasmou tão rapidamente em “filosofia sistemática” e abstrata, pois essa “admiração” suscitada pela generosidade da “vida” que nos circunda “não permite tão rápido desprendimento das múltiplas maravilhas que a suscitam” e, sendo tão “infinita” e “insaciável” como a própria vida, “não quer decretar a sua própria morte”. Na experiência de Álvaro de Campos não há qualquer pacificação do pasmo ou assombro da consciência pelo conhecimento conceptual e objectivante, pois jamais se dá a violência do distanciamento que María Zambrano vê na origem da filosofia. Pelo contrário, o pensamento, se não deixa de emergir sob o signo da interrogação e da especulação ontológico-metafísica, é sempre conduzido pelo arrebatamento ante a irredutibilidade do “mistério” de “haver ser” que frustra sem apelo esse desejo natural de saber partilhado por todos os humanos, como se consagra na primeira linha da <em>Metafísica </em>de Aristóteles, obra paradigmática da deriva racional e epistemológica da filosofia ocidental.</p><p>É a esta luz que nos interessa explorar a relevância da experiência da perplexidade em Ibn ʿArabī, como culminação na consciência do dinamismo automanifestativo da Realidade plena. A perplexidade em Ibn ʿArabī aponta para um regresso ao que María Zambrano considera o arrebatamento extático da experiência antes da violenta separação originadora da filosofia ou dessa filosofia meramente interrogativa e  conceptual que define como “um êxtase fracassado por um dilaceramento”. Ibn ʿArabī vai assim no sentido oposto ao da racionalidade ocidental globalmente dominante: não do espanto ou êxtase para a filosofia enquanto teoria racional do mundo, mas desta para o maravilhamento extático da consciência. Na verdade, a <em>ḥayra </em>pode ser vista como afim a esse espanto, admiração, pasmo ou maravilhamento original de uma consciência ainda não cindida da imediata Presença metamórfica dos fenómenos en uma Vida em constante metamorfose. Nesse sentido a <em>ḥayra</em> é afim à experiência poética do mundo, se a virmos não apenas como a que dele têm os poetas humanos, mas antes como a do mundo ser fundamentalmente poesia divina. Ao limite, a fenomenologia da ḥayra pode ser a do vórtice ou vertigem de um Deus que se autodeslumbra a cada instante ao manifestar-se e aparecer de si a si mesmo em modos e formas sempre novos, nessa divina e autopoética imprevisibilidade do Real irredutível a qualquer sistematização religiosa ou teológico-filosófica.</p>}, number={4}, journal={El Azufre Rojo}, author={Borges, Paulo}, year={2017}, month={dic.} }